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sexta-feira, 21 de outubro de 2016
CABOCLOS DE UMBANDA
A palavra caboclo, vem do tupi kareuóka, que significa da cor de cobre; acobreado. Espírito que se apresenta de forma forte, com voz vibrante e traz as forças da natureza e a sabedoria para o uso das ervas.
A marca mais característica da Umbanda, uma religião surgida no Brasil no final do século XIX e início do século XX, é a manifestação de entidades espirituais, por meio da mediunidade de incorporação. Os primeiros espíritos a “baixar” nos terreiros de Umbanda foram aqueles conhecidos como Caboclos e Pretos-velhos, a seguir surgiram outras formas de apresentação como as Crianças, conhecidas, variadamente, como Erês, Cosme e Damião, Dois-dois, Candengos, Ibejis ou Yori. Essas três formas, Crianças, Caboclos e Pretos-velhos, podem ser consideradas as principais porque resumem vários símbolos: representam, por exemplo, as raças formadoras do povo brasileiro – indígenas, negros e brancos europeus – e também representam as três fases da vida – a criança, o adulto e o velho – mostrando a dialética da existência. Além disso, trazem valores arquetipais de Pureza e Alegria na Criança; Simplicidade e Fortaleza no Caboclo e a Sabedoria e Humildade dos Pretos-velhos, mostrando o caminho para a evolução espiritual dos sentimentos, do corpo físico e da mente. Com a expansão da Umbanda, muitas entidades apareceram, como os Baianos, Boiadeiros, Marinheiros e outras muito cultuados no sudeste e nordeste Brasileiro, sem falar de Exu, outro grande ícone Umbandista.
Essa diversidade confirma a abrangência desse movimento espiritual que chama a todos e recebe seres encarnados e desencarnados, com vibrações de fraternidade e amizade sob a luz de Oxalá.
Nesse artigo trataremos, mais especificamente, das entidades conhecidas como Caboclos, invariavelmente presentes nos terreiros de Umbanda de todo o Brasil, praticando a caridade e cumprindo sua missão espiritual.
Existem variações no entendimento que os umbandistas têm sobre o que sejam os caboclos. As variações são próprias do movimento umbandista, notavelmente plural, mas há consenso na Umbanda, no fato de que os Caboclos são espíritos de humanos que já viveram encarnados no plano físico e são, portanto, nossos ancestrais. É interessante notar que em alguns cultos afro-brasileiros, os caboclos são considerados “encantados” e se relacionam com os espíritos da natureza, recebendo nomes de animais, plantas ou outros elementos naturais. Essa percepção se aproxima das lendas indígenas que narram um tempo em que os animais falavam e viviam em comunhão com os homens, podendo um se transformar no outro, (veja mais nas obras de Betty Mindlin).
A palavra caboclo vem do tupi kariuóka, que significa da cor de cobre; acobreado. A partir daí vem a relação com os índios brasileiros, de tez avermelhada. Assim, a palavra caboclo passou a designar aquilo que é próprio de bugre, do indígena brasileiro de cor acobreada. Posteriormente surgiu a noção de caboclo como mestiço de branco com índio, o sertanejo. Dada essa relação dos caboclos com os indígenas – nos terreiros de Umbanda é dessa forma que se manifestam -, e aproximando esse fato ao Orixá Oxossi, que em África é cultuado como Odé, o caçador, o Senhor das Florestas, conhecedor dos segredos das matas e dos animais que lá vivem, diz-se que os Caboclos que baixam na Umbanda são espíritos ligados a Oxossi. Muitos entendem que somente esses são caboclos e que as entidades da vibração de Ogum, Xangô, Yemanjá e Oxalá não seriam, propriamente, caboclos. No entanto, há caboclos da praia, do mar e das ondas, das pedreiras, das cachoeiras, dos rios etc., cujos elementos se associam mais aos outros Orixás que a Oxossi.
Outra maneira de se interpretar as entidades de Caboclo, é como espíritos que se apresentam na forma de adultos, com uma postura forte, de voz vibrante, que trazem as forças da natureza, manipulando essas energias para trabalhar nas questões de saúde, vitalidade e no corte de correntes espirituais negativas. Seu linguajar pode se assemelhar ao dos indígenas, paramentados ou não com cocares, arcos e flechas, machadinha e espadas. Aqui estamos entendendo os Caboclos de maneira mais ampla, como símbolo de fortaleza, do vigor da fase adulta, existindo caboclos de Oxossi, Xangô, Ogum e mesmo aquelas entidades ligadas aos orixás femininos, como Yemanjá, Oxum, Yansã. É claro que essas últimas entidades não vêm como índias, mas com uma forma tipicamente relacionada aos seus atributos. Todavia, são entidades que se apresentam como adultos.
Feitas essas ressalvas, podemos dizer que todas as entidades de Umbanda, especialmente as Crianças, Caboclos e Pretos-Velhos, são espíritos ancestrais que estão ligados, cada um, a um Orixá. Assim, as crianças trazem a vibração dos Orixás Ibeji, conhecidos na Umbanda Esotérica como Yori; os Pretos-velhos vêm sob as vibrações dos Orixás Obaluaiê, Nana Burukum ou Yorimá e os Caboclos podem ser de Oxossi, Xangô, Ogum etc. Também é preciso falar que existem os chamados cruzamentos vibratórios em que uma entidade de Ogum, por exemplo, pode trazer também as forças de outro orixá, como Ogum Yara que além das forças de Ogum, movimenta também as forças dos Orixás das águas, como Yemanjá, Oxum etc.
Vejamos alguns exemplos de Caboclos de Oxossi: Caboclo Sete Flechas, Caboclo Folha Seca, Caboclo Pena Vermelha, Cacique das Matas, Caboclo Cobra-coral, Cabocla Jurema, Cabocla Jacyra, Caboclo Ventania, Caboclo Caçador e outros. Na linha de Ogum temos: Ogum de Lê, Ogum Beira-mar, Ogum Matinata, Ogum Sete Ondas, Caboclo Biritan, Ogum Megê, Ogum Sete Espadas e mais uma plêiade de espíritos que vêm sob essa vibração. Entre os caboclos de Xangô temos muitos caboclos famosos, como Caboclo das Sete Pedreiras, Caboclo Vira-mundo (que vem como Xangô ou Oxossi), Xangô Kaô, Caboclo Pedra Branca, Caboclo da Pedra Preta etc. Para citar alguns da linha de Oxalá, que dificilmente baixam, temos Caboclo Ubiratan, Caboclo Girassol, Caboclo Ipojucan, Caboclo Guaracy e Caboclo Tupi. Esses caboclos, normalmente, vêm fazendo cruzamento vibratório com outros orixás, especialmente com Oxossi.
Todas as entidades de Umbanda são importantes. Ainda que alguns se orgulhem de serem médiuns de caboclos renomados e tidos como chefes de falange, o que vemos é que quando estão no terreiro, os Caboclos tratam uns aos outros como iguais, mostrando que o que importa é o trabalho espiritual e, como em uma aldeia, tudo é feito em conjunto e com as ordens dos planos superiores. Assim diz um ponto cantado de caboclos: na sua aldeia ele é caboclo, é Rompe-mato e seu mano Arranca-toco, na sua aldeia lá na jurema, não se faz nada sem ordem suprema.
É também do linguajar de caboclo, que não cai uma folha da jurema (da mata), sem ordem de Oxalá, ou seja, que tudo na vida tem motivo e que nossas ações são registradas na lei de causa-e-efeito, ou lei do karma. Mas isso não significa ficar passivo, esperando o pior acontecer. Os Caboclos também ensinam a termos coragem e a sermos guerreiros na vida, lutando pelo que é justo e bom para todos. No que é possível, os caboclos nos ajudam a entrar na macaia (a mata que simboliza a vida), a cortar os cipós do caminho (vencer as dificuldades) e, se preciso, caçar os bichos do mato (vencer as interferências espirituais negativas). Essa postura é evidenciada em vários pontos, como esse:
Atira, atira, eu atirei, eu bamba vou atirar Bicho no mato é corredor, Oxossi na mata é caçado.
Cadê Vira-mundo pemba (bis)
Tá no terreiro, pemba, com seus caboclos, pemba.
Veado no mato é corredor, cadê meu mano caçador
E o Caboclo Ventania que me protege noite e dia.
Para quem vivência o terreiro, que há anos luta as batalhas espirituais e já viu os caboclos vencendo as demandas dos filhos-de-fé, afastando entidades negativas, tratando doenças que a medicina muitas vezes não resolve e dando lições de simplicidade, humildade, coragem e persistência, ouvir ou mesmo lembrar esses pontos cantados, traz uma sensação de alegria que enche o coração, renova o ânimo e nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. Melhor do que qualquer leitura sobre caboclo é vê-lo incorporado atendendo quem precisa.
Fonte: Revista Orixás, Candomblé e Umbanda
Saravá Umbanda !
Pai Josimar da Capadócia
domingo, 16 de outubro de 2016
PORQUE ASSENTAR O EXU GUARDIÃO ?
Todos os que conhecem a Umbanda e os demais cultos afro
brasileiros sabem que, antes de qualquer trabalho ser iniciado, é preciso ir
até a tronqueira ou casa de Exu e firmá-lo, para que ele possa atuar por fora
do espaço espiritual do templo, protegendo-o das investidas
de hordas de espíritos “caídos” que estão atuando contra as pessoas que buscam
auxílio espiritual e religioso que possa livrá-las dessas perseguições
terríveis.
Para que um trabalho transcorra em paz, harmonia e
equilíbrio, e para que os guias espirituais possam atuar em benefício das pessoas
e trabalhar os seus problemas, é preciso que tronqueira esteja firmada, porque
assim, ativada, ela é um portal para o vazio relativo regido pelo senhor Exu
guardião ligado ao Orixá de frente do médium dirigente do templo.
Um Exu guardião é assentado, na casa de exu e vários outros
são “firmados” dentro dela, sendo que estes estão ligados a outros senhores
Exus guardiões de reinos e de domínios regidos por outros Orixás.
Os outros não podem ser assentados, senão dois vazios
relativos se abrem “ao redor” do espaço espiritual “interno” do templo, e a
ação de um interfere na do outro.
Um só Exu guardião é assentado, e todos os outros são só
“firmados” na tronqueira, pois, se dois forem assentados na mesma, a ação de um
interferirá na ação do outro vazio relativo aberto no “lado de fora” do templo.
Assentar o Exu e a Pombagira guardiã no mesmo cômodo ou
“casa de esquerda” é aceitável, porque o campo de ação dele se abre no “lado de
fora” e o campo dela abre-se para dentro do “lado de dentro” do templo, criando
apolarização com o campo do Exu guardião.
. O campo do Exu guardião é o vazio relativo que se abre no
lado de fora do espaço espiritual interno do templo.
. O campo da Pombagira guardiã é o “abismo” que se abre para
“dentro”, a partir do espaço espiritual interno do templo.
. Esses duas entidades são indispensáveis para o equilíbrio de
um trabalho espiritual, porque um atua por fora e o outro atua por dentro do
templo.
. Um se abre para fora, repetindo o mistério das realidades,
e o outro se abre para dentro, repetindo o mistério das dimensões.
. Exu retira do “espaço infinito” tudo e todos que
estiverem gerando desequilíbrio ou causando desarmonia.
. Pombagira recolhe ao âmago do espaço infinito tudo e
todos que o estiverem desarmonizando.
São duas formas parecidas de atuação, mas Exu retira, e
Pombagira interioriza.
Comparando o espaço infinito com um vulcão, Exu seria o ato
de erupção, quando ele descarrega a intensa pressão interna. Já a ação de
Pombagira, seria a das rachaduras internas , que a pressão abre dentro da
crosta, nas quais correm e acumulam-se toneladas de lava vulcânica, que se
acomodam e, lentamente, se resfriam e se cristalizam, gerando enormes acúmulos
de minérios e cristais de rochas.
Exu e Pombagira são indispensáveis aos trabalhos
espirituais, porque junto com os consulentes vêm todas as suas cargas
energéticas e vibratórias negativas; suas cargas espirituais e elementais que
sobrecarregam o espaço espiritual interno, que deve ter essas duas “válvulas”
de escape funcionando em perfeita sintonia e sincronizadas com todo o trabalho
que está sendo realizado pelos guias espirituais.
Se essas “válvulas” estiverem funcionando bem, o trabalho
realizado não sobrecarregará os guias espirituais que trabalharam pelas
pessoas. Porém se não funcionarem corretamente, eles terão que recolher todas
as sobrecargas e irem descarregando-as lentamente nos pontos de forças da
natureza, mas à custa de muitos esforços.
Portanto, com isso entendido, esperamos que os umbandistas
entendam o porquê de terem que firmar seu Exu e sua Pombagira antes de abrirem
seus trabalhos espirituais.
Exu e Pombagira geram muitos fatores e executam muitas
funções na Criação e, em algumas dessas funções, formam linhas de trabalhos
espirituais.
Eles também formam pares. Em algumas ocasiões são
complementares; em outras, são opostos; em outras, são complementares e
opostos ao mesmo tempo.
Só pelas suas funções aqui já descritas, tornam-se
indispensáveis à paz, à harmonia e ao equilíbrio dos trabalhos espirituais
realizados pelos médiuns umbandistas, tanto os realizados dentro dos centros
quanto os realizados fora dele.
Afinal, não são poucos os médiuns que, movidos pela bondade,
vão até a residência de pessoas com graves problemas ou demandas para ajudá-las
e, por não tomarem a precaução de firmar Exu e Pombagira antes de trabalhar
para elas, ao invés de ajudá-las realmente, só pegam cargas que irão
desequilibrá-los também.
Para se fazer um bom trabalho na residência de alguém, assim
que chegar, deve-se ir até o quintal, riscar um ponto de Exu, colocar um copo
com pinga, firmar as velas nos seus pólos mágicos e invocar o Orixá Exu e o seu
Exu guardião, pedindo-lhes que descarreguem todas as sobrecargas e recolham
todas as demandas feitas contra os moradores da casa e até contra ela.
O mesmo deve ser feito com Pombagira para que, só então, o
médium comece a trabalhar espiritualmente, porque, aí sim, todas as cargas e
demandas terão por onde ser descarregadas. E mesmo as entidades negativas que
tiverem de ser transportadas para que recolham suas projeções negativas virão
de forma ordenada e equilibrada, não causando nenhum problema durante o
trabalho.
Quando se vai com alguém na natureza para descarregá-lo,
tanto o médium deve firmar suas forças em sua casa como deve, pelo menos,
firmar Exu ou Pombagira no campo vibratório escolhido, para não ter contratempo
algum durante o trabalho de descarr ego na natureza.
São medidas indispensáveis para que um bom trabalho seja
realizado e tudo transcorra em paz.
Esperamos ter conseguido transmitir os fundamentos
necessários para que o ato de “firmar” a esquerda não seja mal interpretado, e
sim visto como indispensável para que bons trabalhos sempre sejam realizados,
tanto em benefício próprio quanto dos nossos semelhantes.
FONTE: Rubens Saraceni Texto extraído do livro: “Orixá Exu –
Fundamentação do Mistério Exu na Umbanda” – Editora Madras
Saravá Umbanda
Pai Josimar da Capadócia
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