Para um entendimento mais facilitado, teremos que traçar uma linha na África na altura do Golfo de Benin, onde encontraremos ao Sul os Bantos, que cultuavam além dos Orixás os espíritos dos antepassados mortos (é sabido que em Benguela, na Angola, existia um culto chamado de "orodere" semelhante ao conhecido "espiritismo", se compararmos hoje, a religião que cultua Orixás e espíritos de antepassados é a Umbanda, com seus pretos-velhos, caboclos e Orixás. Já ao Norte encontramos nosso alvo, os negros Sudaneses, que cultuavam os Orixás como os meios de ligação entre os homens e o Deus maior, Olorum, características da Nação, Batuque.
Para o Rio Grande do Sul
desceram os negros da Costa da Guiné ou Nigéria, com suas Nações: Jeje,
Ijexá, Oyó e Nagô. Como a escolha de ficar juntos ou não, não pertencia
aos negros, estes eram misturados nos navios, havendo assim uma união de
Nações, destacando-se suas peculiaridades. Nascendo assim outras
nações: Jeje-Ijexá, Jeje-Oyó, Jeje-Nagô, e assim por diante.
Não podemos dar uma data
certa ao nascimento do primeira Casa de Nação no Estado, mas segundo o
professor e amigo Norton Corrêa, existem várias suposições que nos fazem
chegar a mais ou menos 150 anos atrás, onde os documentos da época nos
mostram que na Região de Rio Grande (entrada oficial de negros no
Estado), existia uma grande concentração de negros livres, inclusive
Nordestinos, este último fato não podemos desprezar, pois as semelhanças
entre o Batuque e o Xangô de Pernambuco são muito grandes.
Batuque
O Batuque é um culto
afro-brasileiro (por que não dizer afro-gaúcho), com influência
sudanesa, onde são cultuados 12 Orixás. Os Orixás são espíritos
naturais, a própria encarnação da natureza, que se utilizam do
Cavalo-de-Santo para se manifestar na terra, trazendo suas
características sob influência da Mãe Natureza. Estes Orixás são: Bará,
Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otim, Ossanha, Obá, Xapanã, Oxum, Iemanjá e
Oxalá. Podemos dividir estes Orixás em dois grandes grupos: os Azedos,
de Bará até Xapanã e os Doces de Oxum a Oxalá, características estas que
são representadas em suas oferendas e manifestações na terra, os azedos
ao se manifestarem são mais bruscos e levam em suas frentes ou
oferendas o Epô (azeite de dendê), já os doces quando chegam no mundo
são suaves e na sua grande maioria mais velhos e o mel é o que melhor os
representa, neste enfoque.
Ainda encontramos outros subgrupos identificados em alguns Orixás com o primeiro nome, seguido de um segundo, como por exemplo:
Bará:
Bará Legba, Bará Lodê, Bará Lanã, Bará Adaqui e Bará Agelú
Ogum:
Ogum Avagã, Ogum Onira, Ogum Olobedé e Ogum Adiolá
Iansã:
Iansã, Oiá Timboá e Oiá Dirã
Xangô:
Xangô Agandjú de Ibedji, Xangô Agandjú e Xangô Agogô
Xapanã:
Xapanã Jubeteí, Xapanã Belujá, Xapanã Sapatá
Oxum:
Oxum Pandá de Ibedji, Oxum Pandá, Oxum Demun, Oxum Olobá e Oxum Docô
Iemanjá:
Iemanjá Bocí, Iemanjá Bomí e Nanã Borocum
Oxalá:
Oxalá Obocum, Oxalá Olocum, Oxalá Dacum, Oxalá Jobocum e Oxalá de Orumiláia.
Estes segundos nomes dos
Orixás poderemos explicar como se em nossa vida terrena, fosse uma
classificação por idade ou até mesmo sua área de atuação. Existem ainda
um terceiro nome que cada Orixá identifica no jogo de Búzios, este nome
passa a ser a identificação secreta, que cabe apenas ao Pai-de-Santo, ao
filho e ao Orixá obviamente, ficando o Orixá com três nomes: como por
exemplo Bará Lodê Beí, este terceiro é o segredo. Os Orixás que não
possuem a subdivisão, o segredo passa a ser o segundo nome, exemplo:
Ossanha Ossí
Assim como nomes, cada Orixá tem seu tipo de ave, seu tipo de animal de quatro patas e seu tipo de oferenda.
O Orixá sem ser em festas
ou obrigações, se comunica com seus fiéis através do Ifá (jogo de
Búzios), utilizando as mãos e intuição de um pai ou mãe-de-santo. O jogo
de Búzios é a principal, eficaz e mais rápida ferramenta, de sabermos
sobre o mundo, necessidades de homens e dos próprios Orixás, a fim de
melhorar o andamento das coisas.
Toda pessoa ao nascer
recebe um Orixá na cabeça, outro no corpo, este casamento de Orixás, da
cabeça com o corpo, denominamos de Adjuntó, e em alguns casos nas
pernas, pés e assim por diante, este Orixá é visualizado quando é jogado
os búzios pelo Pai-de-Santo, que também ficará sabendo, normalmente
neste jogo, se esta pessoa necessitará fazer alguma Obrigação religiosa
ou apenas um simples trabalho, não tendo que se comprometer mais a fundo
com a Religião.
A Família Batuqueira
Dentro de uma Casa de
Religião (Batuque) encontramos uma verdadeira família, como as de padrão
convencional. Em primeiro lugar encontramos o Pai ou Mãe-de-Santo,
posição máxima, esta pessoa que através das ordens do seu Orixá de
cabeça, organiza e aconselha a vida religiosa e muitas vezes material de
seus filhos-de-santo, que são irmãos entre si, os irmãos-de-santo do
Pai ou da Mãe, são os tios e assim por diante, como em nossa família.
Josimar da Capadócia